CORREIOS MISTURAM ALHOS COM BUGALHOS: LIVRE CONCORRÊNCIA NÃO É MONOPÓLIO POSTAL
Publicada dia 02/06/2025 16:48
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Por Márcio Martins
O que parece piada de ditado popular é, na verdade, uma prática recorrente e preocupante dentro da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Os Correios seguem confundindo os conceitos de monopólio postal com os princípios da livre concorrência, o que tem gerado um verdadeiro caos para os clientes e, principalmente, para os trabalhadores da estatal.
A estatal insiste em aplicar regras rígidas e engessadas do monopólio postal em serviços que, por lei, já estão sob livre concorrência, como é o caso das encomendas e dos serviços logísticos integrados — áreas impulsionadas pelo crescimento do e-commerce. Essa confusão estratégica é um dos principais gargalos que impedem a modernização e o avanço dos Correios.
Falo com propriedade: são quase 15 anos de experiência dentro da empresa. O que vemos é uma falta de vontade política da direção da estatal em adaptar suas práticas à nova realidade do mercado. Enquanto plataformas como Shopee, Mercado Livre, Amazon e tantas outras avançam com entregas rápidas e flexíveis, os Correios patinam em um modelo ultrapassado, burocrático e centralizador.
Um exemplo claro é o sistema de distritamento — originalmente criado para cartas, dentro das regras do monopólio postal — que há anos vem sendo aplicado também às encomendas. Resultado: regiões inteiras, principalmente no interior do Brasil, deixam de receber produtos comprados pela internet porque as normas de entrega não acompanham a demanda nem a dinâmica da concorrência.
Essa realidade gera frustração para os consumidores e angústia para os funcionários, que se veem de mãos atadas por decisões tomadas pela diretoria executiva da empresa. Nós, representantes dos trabalhadores à frente do sindicato no Maranhão, temos escutado diariamente relatos de carteiros e atendentes que se desdobram para cumprir prazos impossíveis e explicar regras ilógicas para clientes insatisfeitos.
É preciso deixar claro: o monopólio postal tem sua importância. Ele garante a soberania nacional, assegura a universalização do serviço postal básico e deve ser preservado com responsabilidade.
Mas não se pode usar esse mesmo modelo para regular a entrega de mercadorias em um mercado que exige agilidade, inovação e competitividade.
A solução é urgente: rever as regras, ampliar a abrangência das áreas atendidas, flexibilizar os métodos de entrega e investir em tecnologia. O momento é de mudança — e já passou da hora de a direção dos Correios parar de olhar para o retrovisor e começar a agir com visão de futuro.
Porque quem trabalha e conhece a realidade da empresa sabe: seguir misturando alhos com bugalhos só levará os Correios a afundar ainda mais.
